sábado, 28 de dezembro de 2024

Saúdo 2025 com o fogo do combate * Pedro Cesar Batista/DF

Saúdo 2025 com o fogo do combate

Mais um ano se vai, deixará grandes lições.

O genocídio contra o povo Palestino, a ocupação do Saara Ocidental, o bloqueio contra Cuba, Venezuela, Irã, ataques aos povos africanos e de todos os continentes, a colonização imperialista, as bombas estadunidense e sionistas matando os povos, que não se vergam e resistem em defesa de soberania e dignidade.

O capitalismo continua seus crimes, cria exércitos nazistas, fascistas e sustenta o sionismo; explora cruelmente quem produz as riquezas, dissemina ignorância, egoísmo, ódio, miséria e sofrimento.

Trabalhadores resistem, adquirem consciência e ousam seguir a gloriosa caminhada na construção do socialismo. A resistência e ousadia revolucionária nunca se apagarão.

Descobri que fui espionado pela ABIN paralela pelos quatro anos do governo fascista, que repetiu o SNI me perseguindo. Os fascistas seguem conspirando contra quem combate pela dignidade humana, soberania e autodeterminação dos povos.

Lancei Noite Longa, o amanhecer veio em forma de negação da ousadia, da materialidade e da construção de novos paradigmas. Parcela significativa de jovens reproduz o conservadorismo, com a roupagem do tempo pós-moderno, cheio de medo e individualismo, seja nas igrejas neopentecostais lotadas ou em universidades.

Rupturas, encontros e desencontros aconteceram. Fiz novas amizades, novos camaradas, reforcei laços de companheirismo.

Pintei vários quadros, retratei sonhos e tempos passados. Escrevi e li bastante; conheci muitos novos cantores e músicos. Deleitei canções, poemas e viagens que muito me ensinaram.
Reuni a coletânea Amar e Combater, sempre é tempo, que lançarei no começo do próximo ano. Comecei a escrever História inacabada.

Seguir sempre, enquanto houver convicção para à batalha, que será vitoriosa.

Viva o novo ano!

Pedro César Batista/DF
A GERAÇÃO ÚNICA
*

sexta-feira, 29 de novembro de 2024

Sobre Nossas Tarefas de Organização # Vladimir Ilitch Lenine

Sobre Nossas Tarefas de Organização
Vladimir Ilitch Lenine

Se não me falha a memória, escrevi CARTA A UM CAMARADA há mais de um ano atrás, em setembro de 1902. Primeiramente ela andou em cópias, de mão em mão, e se propagou pela Rússia como uma apresentação dos pontos de vista do Iskra sobre a questão da organização. Depois disso a União Siberiana, em junho do ano passado, a reimprimiu e a divulgou numa considerável quantidade de exemplares. 

Dessa forma, a Carta transformou-se plenamente em propriedade pública e agora não há nenhum motivo que impeça a sua publicação. As raízes que me levaram a não publicá-la antes (precisamente a sua extrema falta de elaboração literária, o seu caráter de "rascunho") estão superadas, pois exatamente sob essa forma de rascunho dela tomaram conhecimento os militantes russos. Ademais, há uma razão mais importante para a reimpressão dessa carta na forma de rascunho (fiz somente as mais necessárias correções estilísticas): o seu significado como "documento". 

A nova redação do Iskra manifestou, como é sabido, já no número 53, discordâncias relativas às questões de organização. Infelizmente o motivo destas discordâncias não é expresso claramente pela redação, que se limita, de maneira geral, a insinuar aquilo que ninguém entende. Temos que tentar facilitar à nova redação a resolução dessa difícil tarefa. Deixemos que os velhos pontos de vista sobre organização do Iskra sejam conhecidos em todos os seus detalhes, inclusive sob a forma de rascunho; talvez, então a nova Redação se digne a expressar finalmente ao partido, "Intelectual e ideologicamente dirigido" por ela, novos pontos de vista sobre organização. 

Pode ser que a nova Redação compartilhe finalmente conosco a formulação exata daquelas mudanças radicais que seriam projetadas por ela no estatuto de organização de nosso partido. Pois, quem não entende, na realidade, que exatamente esse estatuto absorveu os nossos perenes planos de organização?

Comparando Que Fazer? e os artigos do Iskra sobre questões de organização com esta Carta a um Camarada, e esta última com o Estatuto aprovado no II Congresso, os leitores poderão ter uma idéia clara sobre a continuidade de nossa "linha" de organização, ou seja, da maioria dos iskristas e da maioria do congresso do partido. Com relação à nova Redação do Iskra esperamos, e com enorme ansiedade, a formulação de seus novos pontos de vista sobre organização, como também a indicação do que exatamente, e em que momento, ela se desiludiu e por que começou a "queimar aquilo que antes venerara."

Carta a um Camarada

Caro camarada! Atendo com satisfação o pedido de crítica ao seu projeto de "Organização do Partido Revolucionário de São Petersburgo". (Você pensava, provavelmente, na organização do trabalho do POSDR em São Petersburgo). A questão por você levantada é de tal importância que deveriam discutí-la também todos os membros do comitê de São Petersburgo e, inclusive, todos os social-democratas russos em geral.

Primeiramente assinalarei minha completa concordância com sua explicação sobre a inutilidade da organização anterior da "União" ("de círculos" como a denomina). Você chama a atenção para a ausência de uma séria preparação e de uma educação revolucionária entre os operários de vanguarda, para o assim chamado sistema eleitoral tão orgulhosa e veementemente defendido pelos membros do Rabotchéie Diélo em nome dos princípios "democráticos" e, a alienação dos operários de todo trabalzho ativo.

Trata-se exatamente disso: 

1) a ausência de uma preparação séria e de uma educação revolucionária (não somente entre os operários, como também entre os intelectuais); 2) a utilização inadequada e excessiva do princípio eleitoral; e 3) o afastamento dos operários da verdadeira atividade revolucionária. Nesse ponto, encontra-se o principal defeito, não somente da organização em São Petersburgo, mas também de muitas outras organizações locais de nosso partido. Concordando plenamente com sua concepção fundamental sobre as tarefas organizativas, uno-me também ao seu projeto de organização, na medida em que sua carta explica os traços fundamentais desse projeto.

Estou de pleno acordo com você quando diz que devemos assinalar principalmente as tarefas a nível de toda a Rússia e de todo o partido em geral. Isso se expressa no primeiro ponto de seu projeto que diz: "O centro dirigente do partido (e não apenas de um comitê ou de uma região) é o jornal Iskra, que possui correspondentes permanentes entre os operários e está estreitamente ligado com o trabalho interno da organização". Eu só faria uma ressalva, a de que o jornal pode e deve ser o dirigente ideológico do partido, desenvolvendo as verdades teóricas, as situações táticas, as idéias organizacionais gerais, as tarefas gerais de todo o partido, neste ou naquele momento. Quanto ao dirigente prático direto do movimento, somente pode ser um grupo central especial (chamemo-lo até mesmo de Comitê Central), que se relacione pessoalmente com todos os comitês, que integre em seu seio as melhores forças revolucionárias de todos os social-democratas russos e comande todos os assuntos partidários: a distribuição da literatura, a edição de panfletos, a distribuição das forças, a nomeação de pessoas e grupos para a direção de empreendimentos especiais, a preparação de manifestações de caráter nacional e também da insurreição em toda a Rússia, etc. Frente a necessidade de manter o mais rigoroso caráter conspirativo e assegurar a continuidade do movimento, poderão e deverão existir em nosso partido dois centros dirigentes: o OC (Órgão Central) e o CC (Comitê Central). O primeiro deverá dirigir ideologicamente, o segundo prática e diretamente. A unidade de ação e a necessária identificação entre esses dois grupos deverão ser asseguradas não somente pelo programa único do partido, mas também pela composição de ambos os grupos (é necessário que, tanto no OC quanto no CC, existam pessoas plenamente identificadas entre si); e pela organização de reuniões regulares e constantes entre eles. Somente então, por um lado, o OC colocar-se-á fora do campo de ação dos gendarmes russos, o que lhe proporcionará serenidade e continuidade e, por outro, o CC será sempre solidário com o OC em tudo que é fundamental e estará suficientemente livre para assumir o comando direto de todo o aspecto prático do movimento.

Por isso seria desejável que o primeiro ponto do estatuto (conforme o seu projeto), não somente indicasse o órgão do partido reconhecido como dirigente (claro que é necessário essa indicação), mas também que a organização local estabeleça como sua tarefa trabalhar ativamente para a construção, apoio e fortalecimento daqueles organismos centrais, sem os quais o nosso partido não pode existir enquanto tal.

Em seguida, no segundo ponto, sua carta fala sobre o comitê que deve "dirigir a organização local" (seria melhor dizer, talvez, "todo o trabalho local e todas as organizações locais do partido", mas não vou me deter sobre detalhes da formulação) e que ele deve ser composto tanto de operários quanto de intelectuais, pois sua divisão em dois comitês é nociva. Isso é total e incondicionalmente justo. O comitê do POSDR deve ser único, e nele devem estar social-democratas plenamente conscientes, dedicados inteiramente à ação social-democrata. É necessário esforçar-se de modo especial para conseguir que cheguem a ser revolucionários plenamente conscientes, profissionais e entrem no comitê o maior número possível de operários(1). Nas condições de um comitê único e não duplo, a questão dos contatos pessoais dos membros do comitê com grande número de operários assume significado especial. Para dirigir tudo aquilo que acontece no meio operário, é necessário ter a possibilidade de estar em todas as partes, é necessário conhecer muita gente, ter todos os caminhos, etc. Por essa razão, deverão estar no comitê todos os principais chefes do movimento operário oriundos da própria classe operária, o comitê deverá dirigir todos os aspectos do movimento local, chefiar todos os organismos, todas as forças e todos os meios locais do partido. Sua carta não fala de como deverá compor-se o comitê; é possível que também aqui estejamos de acordo, pois para isso não são necessárias normas especiais, já que a composição dos comitês é um assunto dos social-democratas locais. Talvez bastaria indicar que os novos membros serão cooptados por decisão da maioria do comitê (ou de 2/3, ou algo semelhante), que este deverá preocupar-se com a transferência de todos seus contatos a um local seguro (no sentido revolucionário) e propício (no sentido político), e também deverá preparar antecipadamente seus suplentes. Quando tivermos nossos OCs e CCs, os novos comitês só deverão formar-se através de sua participação e consentimento. O número de membros do comitê deverá ser, na medida do possível, não muito grande (para que o nível dos membros seja alto e sua especialização na pro-fissionalização revolucionária completa), mas ao mesmo tempo suficiente para garantir a direção de todos os aspectos do movimento e assegurar a riqueza das reuniões e a firmeza das decisões. Caso o número dos membros seja elevado e as reuniões freqüentes se tornem perigosas, conviria destacar do seio do comitê um grupo dirigente especial, muito reduzido (digamos cinco pessoas, ou talvez menos), do qual deveria fazer parte necessariamente o secretário e as pessoas mais capacitadas para a direção prática do conjunto do trabalho. Para esse grupo seria especialmente importante assegurar os suplentes, no caso de queda, para que o trabalho não se interrompa. As reuniões gerais do comitê ratificariam as decisões do grupo dirigente, determinariam sua composição etc.

Em seguida, depois do comitê, na sua carta são propostos os seguintes organismos subordinados a ele: 

1) discussão (reunião dos "melhores" revolucionários); 2) círculos de distrito; 3) um círculo de propagandistas para cada um deles; 4) círculos de fábrica, e 5) "reuniões representativas" dos delegados dos círculos de fábrica de dado distrito. Estou plenamente de acordo quanto à idéia de que todos os outros organismos (e eles deverão ser muito e dos mais variados, além daqueles já citados por você) deverão estar subordinados ao comitê, e que são necessários os grupos distritais (para cidades muito grandes) e de fábrica (sempre e por todas as partes). Há, entretanto, alguns detalhes com os quais não concordo. Por exemplo, no que concerne à "discussão", penso que tal organismo não é absolutamente necessário. Os "melhores revolucionários" deverão estar todos no comitê ou em funções especiais (impressão, transporte, agitação itinerante, organização, por exemplo, do birô de passaportes ou as brigadas de luta contra os espiões).

As "reuniões" serão realizadas no comitê e em cada região, em cada fábrica, em cada círculo fabril, de propaganda, profissional (tecelões, mecânicos, curtidores e assim por diante), estudantes, círculos literários, etc. Para que então converter as "reuniões" em um organismo especial?

Prossigamos. 

É totalmente justa sua exigência de que se permita a "quantos o desejam" a possibilidade de enviar diretamente correspondência à Iskra. Entretanto, o "diretamente" não subentende facilitar o contato com a Redação e seus endereços a "quantos o desejam", mas será obrigatório transmitir (ou fazer chegar) à Redação as cartas de quantos o desejem. Aliás, os endereços não devem ser dados amplamente a quantos o quiserem, mas somente aos revolucionários seguros e destacados por sua excepcional habilidade conspirativa, e talvez, não somente a um por região, como quer em sua carta, mas em vários. É necessário também que todos aqueles que participam do trabalho, todos e cada um dos círculos, tenham o direito de fazer chegar suas decisões, seus desejos, suas dúvidas ao conhecinento tanto do comitê, como do OC e do CC. Se assegurarmos esta possibilidade, conseguiremos a plenitude dessas reuniões, e de todos os militantes do partido, sem necessidade de criar organismos tão volumosos e tão pouco seguros como as "discussões". Claro que é necessário se esforçar por organizar contatos individuais, com o maior número possível de militantes de todos os tipos, mas sem perder de vista que o mais importante de tudo é o respeito às questões de segurança. Assembléias e reuniões gerais só são possíveis na Rússia muito rara a excepcionalmente e teremos que ser extremamente cuidadosos ao autorizar a admissão nessas reuniões dos "melhores revolucionários", já que nesse tipo de reunião, facilmente penetram provocadores e espiões que sigam um dos participantes. Creio que seria melhor proceder assim: quando for possível realizar grandes reuniões gerais (digamos de 30 a 100 pessoas; por exemplo, durante o verão, no bosque ou num aparelho especialmente selecionado), então o comitê enviaria, para lá, um ou dois dos "melhores revolucionários" e preocupar-se-ia com a boa composição da reunião, isto é, convidando o maior número possível de membros seguros dos círculos operários, etc. Mas não é necessário formalizar estas reuniões, incluí-las nos estatutos, regularizá-las; não é necessário fazer com que todos os membros da reunião conheçam todos os participantes, isto é, que saibam que todos são representantes" dos círculos, etc. Eis porque sou contra, não somente as discussões, mas também os "encontros de representantes". No lugar desses dois organismos proporia, a grosso modo, a seguinte norma: o comitê preocupar-se-á com a organização de grandes reuniões com a presença do maior número possível de militantes práticos do movimento e de todos os operários em geral. O dia e a hora, o local e o motivo da reunião, assim como sua composição, seriam determinados pelo comitê, que é o responsável pelo caráter secreto de tais atividades. Desnecessário dizer que isso não descarta, de modo algum, a possibilidade de que os próprios operários realizem reuniões menos formais ainda durante seus passeios nos bosques, etc. O melhor seria, talvez, não mencionar nada disso aos estatutos.

No que se refere aos grupos distritais, estou de pleno acordo quando diz que uma de suas tarefas essenciais é a correta difusão de literatura. Penso que os grupos distritais deveriam ser fundamentalmente intermediários entre os comitês e as fábricas e, antes de mais nada órgãos transmissores. Sua primeira tarefa deverá se organizar cons-pirativamente uma correta distribuição da literatura recebida do comitê. Tarefa do mais alto grau de importância porque, se é garantida a ligação regular do grupo especial de distribuidores do distrito com todas as fábricas e com o maior número possível de bairros operários do mesmo distrito, isto assumirá uma importância imensa tanto para as manifestações como para a insurreição. Estabelecer e organizar uma difusão rápida e correta da literatura, dos panfletos, das proclamas, etc., educar para isso toda uma rede de agentes significará realizar mais da metade da tarefa de preparação de futuras manifestações e da insurreição. Em momentos de sublevação, de greves, de agitação, é tarde para iniciar a distribuição de literatura, pois isso só pode ser aprendido pouco a pouco, sendo feito necessariamente duas a três vezes por mês. Não existindo jornal pode-se e deve-se fazer isso com volantes, mas sem permitir, de modo algum, que o aparelho de distribuição permaneça inativo. É necessário o esforço de aperfeiçoar a um tal grau esse aparelho de modo que numa só noite toda a população operária de São Petersburgo possa ser informada e mobilizada. E isto não é de modo algum uma tarefa utópica, à medida que os panfletos sejam sistematicamente transmitidos do centro aos mais restritos círculos intermediários e destes aos distribuidores. Ampliar os limites da ação do grupo distrital para outras funções além daquelas especificamente intermediárias e de distribuição não seria, do meu ponto de vista, conveniente. Isto só seria possível procedendo-se com a maior cautela, pois poderia prejudicar o caráter conspirativo e a integridade do trabalho. Nos círculos de distrito também serão realizadas, naturalmente, reuniões para discutir todos os problemas do partido, mas as decisões de todas as questões gerais do movimento local só poderão ser tomadas pelo comitê. A independência do grupo distrital somente deverá ser permitida nas questões sobre a técnica de divisão e distribuição. A composição do grupo distrital deverá ser determinada pelo comitê, ou seja, o comitê designará um ou dois de seus membros (ou inclusive não membros) como delegados de tal ou qual distrito com tarefa de constituir um grupo distrital, onde todos os seus membros deverão da mesma forma ser confirmados pelo comitê em seus cargos. O grupo distrital é uma filial do comitê, e é a partir dele unicamente que possui seus poderes.

Passarei agora à questão dos círculos de propagandistas. Organizá-los separadamente em cada região é quase impossível devido à escassez dos nossos elementos propagandistas sendo, além disso, pouco desejável. A propaganda deverá ser feita de forma uníssona por todo o comitê, a quem corresponde centralizá-la rigorosamente. Por isso imagino que deverá ser assim: o comitê atribui a alguns de seus membros a organização de um grupo de propagandistas (que será uma filial do comitê ou um dos organismos deste. Este grupo, utilizando por razões conspirativas os serviços dos grupos distritais, deverá efetuar a propaganda em toda a cidade, em toda a localidade que está "sob a direção" do comitê.

Se necessário, esse grupo poderá criar sub grupos, transferir a outros suas funções, mas tudo isso sob condição de que tais medidas sejam ratificadas pelo comitê, o qual deverá ter sempre, incondicionalmente, o direito de enviar um delegado seu a cada grupo, sub grupo ou círculo que de um modo ou de outro participe do movimento. E com relação ao tipo de atribuições, as seções filiais ou de organismos do comitê, deverão organizar também todos os diversos grupos que servem ao movimento, grupo de estudantes e grupo de secundaristas, assim como grupos de funcionários auxiliares, os grupos de transporte, de imprensa, os dedicados à organização de aparelhos, grupos de contra-espionagem, grupos de militares, de fornecimento de armas e aqueles criados para organizar "empresas financeiras rentáveis", etc. Toda a arte de uma organização conspirativa consiste em saber utilizar tudo e todos, em "dar trabalho a todos e a cada um", conservando o mesmo tempo a direção de todo o movimento, e isto entenda-se, não pela força do poder, mas pela força da autoridade, por energia, maior experiência, amplidão de cultura, habilidade. Esta observação está relacionada com uma contestação possível e comum: a de que uma centralização rigorosa possa destruir um trabalho com excessiva facilidade, se casualmente no centro se encontre uma pessoa incapaz, possuidora de imenso poder. É claro que isso é possível, mas o remédio contra isso não pode ser o princípio eleitoral e a descentralização, absolutamente inadmissíveis e inclusive nocivas ao trabalho revolucionário sob a autocracia. O remédio contra isso não se encontra em nenhum estatuto. Somente podem nos fornecer parâmetros "críticas fraternas" começando com resoluções de todos os grupos e sub grupos, seguidas de conclamações ao OC e CC e terminando, "na pior das hipóteses", com a destituição da direção completamente incapaz. O comitê deve esforçar-se para realizar a mais completa divisão de trabalho possível, lembrando-se que para os vários aspectos do trabalho revolucionário são necessárias diferentes capacidades. Algumas vezes, pessoas completamente incapazes como or-ganizadoras podem ser excelentes agitadoras, ou outras incapazes para uma severíssima disciplina conspirativa, ser excelentes propagandistas, etc. Quanto aos propagandistas, ainda gostaria de dizer algumas palavras contra a tendência usual de abarrotar essa profissão com pessoas pouco capazes rebaixando com isso, o nível da propaganda. Às vezes, entre nós, qualquer estudante indiscriminadamente é considerado propagandista, e todos os jovens exigem que se lhes "dê um círculo", etc. Temos que lutar contra essa prática, pois são muitos os males que daí advém. As pessoas realmente firmes quanto aos princípios, e capazes de ser propagandistas são muito poucas (e para chegar a sê-lo é preciso estudar muito e acumular experiência), e a estas pessoas é necessário especializá-las, ocupar-se delas e cuidá-las com zelo. É preciso organizar várias aulas por semana para esse tipo de pessoas, saber enviá-las oportunamente a outra cidade e, no geral, organizar visitas das mais hábeis propagandistas pelas diversas cidades. Quanto à massa de jovens principiantes é mais conveniente empregá-los nas tarefas práticas, que estão no momento em segundo plano se comparadas com a circulação dos estudantes pelos círculos, otimisticamente chamados "de propaganda". É claro que, para as atividades práticas sérias, também é necessário uma sólida preparação, contudo aqui, é mais fácil encontrar trabalho para "os principiantes".

Passemos agora aos círculos de fábrica. 

Estes são particularmente importantes para nós; já que a força fundamental do movimento reside no grau de organização dos operários das grandes fábricas, nas quais se concentra a parte mais importante da classe operária, não só quanto ao número como também por sua influência, grau de desenvolvimento e capacidade de luta. Cada fábrica deverá ser para nós uma fortaleza. E, para isso, a organização operária "de fábrica" deverá ser tão conspirativa em seu interior, quanto "ramificada" no seu exterior, isto é, nas suas relações externas deverá levar seus tentáculos tão longe e nas mais diferentes direções, quanto qualquer outra organização revolucionária. Saliente que o núcleo dirigente deverá ser também aqui, obrigatoriamente, o grupo de operários revolucionários. Deveremos romper radicalmente com a tradição tipicamente operária ou de tipo profissional das organizações social democratas, inclusive com aquela dos "círculos de fábrica". O grupo ou comitê de fábrica (com o fim de separá-lo de outros grupos, os quais devem ser inúmeros) deverá ser composto de um reduzido número de revolucionários, encarregados diretamente pelo comitê, e com plenos poderes para dirigir todo o trabalho social-democrata na fábrica. Todos os membros do comitê de fábrica deverão ser considerados como agentes do comitê, obrigados a submeterem-se a todas às suas decisões e observarem todas as "leis e costumes" deste "exército em campanha" ao qual filiaram-se e do qual não têm direito de sair em tempo de guerra, sem a permissão do comando. Por isso, a composição do comitê de fábrica tem um grande significado, tanto que uma das principais preocupações do comitê de fábrica deverá ser a de criar corretamente os sub-comitês. Penso que isso deverá ser assim: o comitê designará alguns de seus membros (mais algumas pessoas entre os operários que não façam parte do comitê por quaisquer razões, mas capazes de ser úteis por sua experiência, seu conhecimento sobre as pessoas, sua inteligência ou suas relações) para organizar em todas as partes os subcomitês de fábrica. A comissão reunir-se-á com os delegados distritais , realizará uma série de encontros, testará muito bem os candidatos e membros dos subcomitês de fábrica, ou submeterá a interrogatórios rigorosos e, se necessário, por à prova esforçando-se nisso em examinar e testar diretamente o maior número possível de candidatos ao subcomitê de fábrica de determinada empresa. Finalmente proporá ao comitê aprovar tal ou qual composição de cada círculo de fábrica ou delegar poderes a um determinado operário para compor, selecionar e organizar todo um subcomitê. Dessa forma, o próprio comitê determinará quais desses agentes deverão ter contatos consigo e como realizará esses contatos (de acordo com a norma geral isso é feito com a intermediação dos dirigentes distritais, mas essa norma poderá ser completada ou transformada). Devido à importância desses subcomitês de fábrica, deveremos nos esforçar na medida do possível, para que cada subcomitê tenha um endereço para se comunicar ao OC como a lista de seus contatos em lugar seguro (isto é, para que as informações necessárias para a rápida recomposição dos sub-comitês, em caso de prisão, cheguem de modo regular e abundante ao centro do partido, com o objetivo de colocá-los a salvo num lugar onde não possam chegar os gendarmes russos). Claro está que essa transmissão de endereços deverá ser decidida pelo comitê de acordo com suas próprias razões e com os dados e notícias que possua, e não conforme o direito inexistente de distribuição "democrática" desses endereços.

Finalmente, não será demais prever que, às vezes, em lugar de um subcomitê de fábrica formado por vários membros poderá ser necessário ou mais cômodo limitar-se à designação de um único agente do comitê (e de um suplente). Quando o subcomitê de fábrica se encontrar formado, este deverá iniciar a criação de toda uma série de grupos e círculos de fábrica, com tarefas distintas, com diferentes graus de conspiratividade e de estruturação, como por exemplo, círculos para a distribuição e difusão das publicações (uma das mais importantes funções, que deverá estar de tal forma organizada, para dispormos de um verdadeiro correio próprio permanente, para que sejam experimentados e testados não só os métodos de difusão, mas também a distribuição por bairros, de tal modo que conheçamos obrigatoriamente todos os bairros e suas vias de acesso), círculos para a leitura da literatura ilegal, para a observação dos espiões(2), círculos especiais de direção do movimento profissional e da luta econômica, círculos de agitadores e propagandistas que saibam iniciar conversas e mantê-las longa-mente e de forma plenamente legal (sobre máquinas, inspeção, etc.), para que se possa falar publicamente e com segurança, conhecer as pessoas e testar o terreno, etc.(3). O subcomitê de fábrica deverá esforçar-se para alcançar toda a fábrica, e o maior número possível dos operários através de uma rede dos mais variados círculos e agentes. O êxito conseguido na atuação do subcomitê será avaliado pela abundância desses círculos, pela possibilidade de que neles penetrem propagandistas volantes e sobretudo, pela correção do trabalho regular que se realiza para a distribuição de literatura e volume de notícias e correspondência recebida. Segundo meu ponto de vista, o tipo geral de organização deverá ser o seguinte: à cabeça de todo o movimento local, de todo o trabalho social-democrata encontrar-se-á o comitê. Dele partirá seus organismos subordinados e as secções filiadas, sob a forma de: em primeiro lugar, uma rede de agentes executivos que abarcará (no possível) toda a massa operária e organizada sob a forma de grupos distritais e subcomitês de fábrica. Nos tempos de paz, essa rede de agentes irá difundir a literatura, panfletos, proclamações e informações conspirativas do comitê; em tempos de guerra, organizará manifestações e outras ações coletivas. Em segundo lugar, sairá do próprio comitê uma série de círculos e grupos que sirvam para assegurar os diversos aspectos do movimento (propaganda, transportes, as mais variadas atividades clandestinas, etc.). Todos os grupos, círculos, subcomitês, etc., deverão ser organismos ou sessões filiais do comitê. Alguns deles manifestarão claramente seu desejo de filiar-se ao partido operário social-democrata russo e desde que aprovados pelo comitê, passarão a integrar o partido, recebendo (por determinação do comitê ou por acordo com ele) determinadas funções, obrigando-se a submeter-se às decisões dos organismos do partido, passarão a ter os mesmos direitos de todos os membros do partido, e serão considerados os mais próximos suplentes de membros do comitê, etc.. Outros, cuja situação é de círculos organizados por membros do partido ou ligados a este ou àquele grupo do partido, não se filiarão ao partido social-democrata russo.

Em todos os assuntos internos, os membros de todos esses círculos possuem é claro, igualdade de direitos, da mesma forma que os membros do comitê entre si. A única exceção aqui é o direito de ter relações pessoais com o comitê local (assim como também com o OC e o CC) ficará reservado àquela pessoa (ou a pessoas) designadas pelo comitê. Para todos os demais assuntos, estas pessoas terão a mesma igualdade de direitos que as demais, as quais têm o mesmo direito de dirigir-se (ainda que não pessoalmente) através de declarações ao comitê local, assim como ao CC e OC. Dessa forma, a exceção indicada não representa uma infração contra a igualdade de direitos, mas sim uma concessãoàs exigências incondicionais da clandestinidade. O membro do comitê, que não envie suas declarações ao comitê, ao CC ou ao OC, através de "seu" grupo, será responsável pela infração direta de seus deveres de partido. Além disso, no que se refere à conspiratividade e estruturação dos mais variados tipos de círculos irá depender da natureza de suas funções. Como relação a isso, teremos aqui as mais variadas organizações (desde as mais "restritas", estreitas e fechadas, até as mais "livres", amplas e abertas, flexíveis). Por exemplo, para os grupos de distribuição é requisito o segredo e a disciplina militar mais rigorosa. Para os grupos de propagandistas, também será necessária clandestinidade, mas com um disciplina militar muito menor. Para os grupos de operários que se dedicam à leitura de publicações legais ou que organizam reuniões restritas sobre as necessidades e as reivindicações profissionais, a clandestinidade é ainda menos necessária, etc.. Os grupos de distribuídores deverão pertencer ao POSDR e conhecer determinado nº de seus membros e de seus dirigentes. O grupo que estuda as condições de trabalho e que elabora as reivindicações profissionais não necessita obrigatoriamente pertencer ao POSDR. O grupo de estudantes, oficiais e funcionários, que se ocupam de sua própria formação contando com a participação de um ou dois membros do partido, algumas vezes nem sequer deverão saber sobre a filiação partidária destes etc.. Há, entretanto, um ponto no qual devemos exigir incondicionalmente a máxima organização de todos esses grupos alinhados ao comitê: cada membro do partido que faz parte dele é formalmente responsável do que se faz nos seus grupos e tem que tomar todas as medidas para que o CC e o OC tenham o maior conhecimento possível da composição de cada um deles, de todo o mecanismo e conteúdo deste trabalho. Isso é necessário para que o centro tenha o quadro completo de todo o movimento, possibilitando com isso o recrutamento entre o maior número possível de pessoas, de algumas para as diversas funções do partido; para que a experiência de cada grupo possa ser transmitida (através do centro) e outros grupos semelhantes de toda a Rússia e, finalmente, para que possamos nos prevenir quanto ao aparecimento de provocadores e pessoas duvidosas. Em uma palavra, trata-se de um requisito incondicional e verdadeiramente necessário em todos os casos.

Como realizar esta organização? Através de informes regulares ao comitê, comunicando no OC a maior parte do conteúdo do maior número possível desses informes, com a organização de visitas a todos os círculos pelos membros do CC e do comitê local e, finalmente, pondo obrigatoriamente em lugar seguro (e no birô do partido junto ao CC e OC) os contatos com estes círculos, isto é, os nomes e endereços de vários membros desses círculos. Somente quando estiverem comunicados os informes e transmitidos os contatos, poderemos considerar que um membro do partido que faz parte da atividade de tal ou qual círculo, cumpriu suas obrigações. Somente então todo o partido estará em sua totalidade em condições de aprender com cada um dos círculos que desenvolve um trabalho prático. Somente assim não serão desastrosas as detenções, já que, de posse das conexões com os diferentes círculos o delegado de nosso CC poderá encontrar fácil e imediatamente os substitutos e restabelecer a organização. A queda de um comitê não irá então destruir toda a máquina, mas simplesmente nos privará de alguns dirigentes, cujos substitutos estarão preparados. E que não se diga que a comunicação das informações e dos contatos seja impossível sob as condições de clandestinidade: basta querer, pois a possibilidade de transmitir ou enviar as informações e os contatos, existe e existirá sempre que tenhamos comitês, CC ou OC.

Chegamos agora a um princípio extremamente importante de toda organização e toda a atividade partidária: se no tocante à direção ideológica e prática do movimento e da luta revolucionária do proletariado é necessária a maior centralização possível, com relação à informação do centro do partido (e conseqüentemente de todo o partido em geral) no que se diz respeito ao movimento e à responsabilidade ante o partido, se impõe a maior descentralização possível. O movimento deve ser dirigido por um pequeno número de grupos, os mais homogêneos possíveis e de revolucionários profissionais respaldados pela experiência. Mas no movimento deverá participar o maior número de grupos, os mais diversos e heterogêneos possíveis, recrutados nas mais diferentes camadas do proletariado (e de outras classes do povo). E com relação a cada um desses grupos, o centro do partido deverá ter sempre em vista, não somente dados exatos sobre sua atividade, mas também os mais completos possíveis a respeito de sua composição. Devemos centralizar a direção do movimento. Mas devemos também (e precisamente para isso, pois sem a informação é impossível a "centralização") descentralizar o quanto possível a responsabilidade ante o partido de cada um de seus membros individualmente, de cada participante no trabalho, de cada um dos círculos do partido ou próximo dele. Essa descentralização é a condição indispensável para a centralização revolucionária e seu necessário corretivo. Precisamente quando esta centralização for levada até o fim e dispusermos de um OC e de um CC, a possibilidade de dirigir-se a eles por parte de todas e de cada um dos grupos, até os menores - e não só a possibilidade, como também o hábito adquirido por uma prática de muitos anos de se comunicar regularmente ao CC e ao OC - eliminará a eventualidade de que obtenha resultados lamentáveis provados pela presença no seio de tal ou qual comitê local de elementos não satisfatórios. Agora que nos encontramos às vésperas da unificação real do partido e da criação de um verdadeiro centro dirigente, devemos lembrar-nos com particular firmeza que esse centro será impotente se ao mesmo tempo não implantarmos a máxima descentralização quanto à responsabilidade e quanto a sua informação sobre todas as engrenagens da máquina partidária. Tal descentralização não é senão o outro aspecto dessa divisão do trabalho que, por consenso geral, representa uma das mais prementes exigências práticas de nosso movimento. Nenhuma atribuição oficial de papel dirigente a uma organização, nenhuma organização de Comitês Centrais formais fará com que nosso movimento adquira uma unidade real e efetiva, criará um partido sólido e combativo, se o centro do partido ficar de antemão isolado do trabalho prático direto dos comitês locais do velho tipo, isto é, de comitês formados, de um lado, por um punhado de pessoas, cada uma das quais dirigindo todos e cada um dos assuntos, sem designar-se funções específicas no trabalho revolucionário, sem responsabilizar-se por atividades especiais, sem se preocupar em estudar cuidadosamente, sem preparar minuciosamente e levar a cabo as tarefas já iniciadas, perdendo uma quantidade enorme de tempo e forças de agitação aparentemente importantes. E, por outro lado, respaldados por uma multiplicidade de círculos de estudantes e operários, a metade dos quais totalmente desconhecidos do comitê e a outra metade igualmente ineficiente, sem nenhum tipo de especialização, sem nenhuma experiência profissional, não se aproveitando da experiência de outros e, ocupados exatamente do mesmo modo que o comitê, com intermináveis reuniões "a propósito de tudo", eleições e elaboração de estatutos. Para que o centro possa trabalhar bem é necessário que os comitês locais se transformem, se tornem organizações especializadas e mais "práticas, que adquiram verdadeira perfeição nesta ou naquela função prática. Para que o centro possa não somente aconselhar, convencer e discutir (como se faz até agora), mas efetivamente dirigir a orquestra, é necessário que se conheça exatamente quem conduz os violinos onde e como, quem aprendeu e aprende cada um dos instrumentos, onde e como o faz, quem (quando a música começa a desafinar) é responsável pela desafinação e quem é necessário mudar para a correção das dissonâncias. Atualmente, sejamos francos, nós ou não sabemos nada sobre o trabalho interno efetivo do comitê, exceto suas proclamações e suas correspondências gerais, ou somente sabemos algo através de informações pessoais de amigos e conhecidos. Pois bem, seria ridículo que um imenso partido capaz de dirigir o movimento operário russo e preparar a ofensiva geral contra a autocracia, possa se limitar a isso. A reorganização do comitê de São Petersburgo e todos os demais comitês do partido deverá consistir no seguinte, e esta é também a razão pela qual tem tão pouca importância o problema dos estatutos: em reduzir o número de membros do comitê; atribuir, na medida do possível, a cada um deles, determinada função da qual ele dá conta e seja responsável; criar um centro especial reduzidíssimo e dirigente de tudo; organizar uma rede de agentes executivos que vinculem o comitê com cada grande fábrica, que se ocupem regularmente da distribuição de literatura e dêem ao centro um quadro exato e preciso dessa difusão e de todo o mecanismo de trabalho; e por último, criar numerosos grupos e círculos que assumam diversas funções ou agrupem as pessoas próximas à social-democracia, ajudando-as e preparando-as para chegar e converter-se em social-democratas, de tal modo que o comitê e o centro estejam sempre a par das atividades (e da composição) desses círculos.

Comecei pelo exame do projeto de estatutos para demonstrar mais claramente para onde se orientam minhas propostas. Como resultado disso, acredito que o leitor se dará conta de que, no fundo, talvez seja possível passarmos sem estatuto, substituindo-o pela regular prestação de contas sobre cada círculo, sobre cada função do trabalho. O que se poderia escrever nos estatutos? O comitê dirige a todos (isto já está claro). O comitê elege do seu centro um grupo dirigente (isso nem sempre é necessário e quando o seja, a questão não é de estatutos, mas é de comunicação ao centro sobre a composição desses grupos e os nomes dos suplentes). O comitê distribui entre seus membros os diferentes aspectos do trabalho, determinando a cada um deles o envio regular dos relatórios ao comitê e comunicar ao CC e OC sobre o seu andamento (e aqui é mais importante comunicar ao centro sobre determinada distribuição, do que escrever nos estatutos uma norma, a qual, pela debilidade de nossas forças, ficará frequentemente sem aplicação). O comitê deve determinar com precisão seus membros e recrutá-los por cooptação. Elege os grupos distritais, os subcomitês de fábrica, tais e quais grupos (se fosse preciso enumerar todos os grupos necessários, não terminaríamos nunca, e nos estatutos não há por que enumerá-los ainda que de modo aproximativo, é suficiente comunicar ao centro sobre sua criação). Os grupos distritais e os subcomitês criam tais e quais círculos... A elaboração de tais estatutos é ainda menos útil neste momento, pois ainda quase não temos (e em muitos lugares não temos nada) a experiência partidária geral e comum sobre a atividade destes diferentes grupos e subgrupos, e que para adqurí-la não são dos estatutos que precisamos, mas da organização da informação partidária, se é que podemos expressar-nos assim. Com os estatutos, cada uma de nossas organizações locais gasta no mínimo algumas noites. Se esse tempo fosse dedicado por cada um dos grupos, de acordo com sua função especial, a um pensado e detalhado relatório sobre ela para todo o partido, a causa teria muito a ganhar.

Os estatutos não são inúteis somente porque o trabalho revolucionário nem sempre se amolda a formas precisas. Não, as formas são necessárias e devemos esforçar-nos para estruturar todo o trabalho na medida do possível. E a estruturação é exeqüível em proporções muito maiores do que geralmente se pensa. Não é com estatuto que a atingiremos, mas única e exclusivamente (repitamo-lo mais uma vez) informando de maneira exata ao centro do partido: somente então essa será a estruturação verdadeira relacionada com a responsabilidade real e a uma publicidade (de partido). Quem ignora que entre nós, as divergências de pontos de vista e os conflitos graves se resolvem no essencial não por um voto "estatutário", mas pela luta e a ameaça de "sair"? A história da maioria dos nossos comitês ao longo dos últimos três ou quatro anos de vida partidária está repleta desta luta interna. É lamentável que esta luta não tenha sido estruturada; ela teria trazido muito para o aprendizado do partido, para a experiência de nossos sucessores. Uma tal estruturação útil e necessária não seria jamais criada por estatutos, mas exclusivamente pela publicidade partidária. Para nós, sob a autocracia, não pode haver outros meios e armas para a publicidade do partido senão a informação regular ao centro partidário.

E somente então, quando aprendermos a fazer esta publicidade, aproveitaremos realmente a experiência do funcionamento de tal ou qual organização. Somente com base em tal experiência ampla e de muitos anos é que poderemos elaborar os estatutos que não existirão somente no papel.

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Ecos de Kazan - entrevista exclusiva de Sergey Lavrov * TV BRICS

ECOS DE KAZAN
TODA PALAVRA
 Em entrevista exclusiva à TV BRICS, 

parceira do jornal e da rádio TODA PALAVRA, o chanceler russo Sergey Lavrov fez um balanço da Cúpula do BRICS de Kazan e expressou, como algumas vezes se escolheu até agora, o verdadeiro conceito político e ideológico do bloco. Nas suas palavras, o BRICS é um movimento igualitário, de democratização das relações internacionais, que vai suplantar o neoliberalismo em breve.

Ele externou o desejo de que a presidência brasileira da associação, no ano que vem, dê continuidade aos projetos iniciados na Rússia, como a criação de uma plataforma de comércio internacional independente do dólar, entre outras propostas.

A entrevista foi dublada para o português pelo editor executivo e pela editora adjunta de TODA PALAVRA, Luiz Augusto Erthal e Mehane Albuquerque, a pedido da TV BRICS. Confira neste "Ecos de Kazan", produzido pela rádio e jornal TODA PALAVRA. Assista a entrevista completa no 

Canal do TODA PALAVRA no YouTube.
*

terça-feira, 5 de novembro de 2024

AS VITÓRIAS DE ISRAEL SÃO VITÓRIAS DE ISRAEL? * Eduardo Luque / El Viejo Topo

AS VITÓRIAS DE ISRAEL SÃO VITÓRIAS DE ISRAEL?

Tentemos fazer um balanço das “vitórias” alcançadas pelo Primeiro-Ministro Netanyahu na sua guerra contra a Palestina, o Líbano e o Eixo da Resistência. Afinal, a propaganda ocidental exaltou a supremacia do exército israelita, autoproclamado o “mais ético do mundo”. Mas quanto é verdade e quanto é propaganda? O que em teoria era uma máquina implacável, eficiente e, sobretudo, vitoriosa, na prática revela grandes limitações e perdas não previstas inicialmente. O líder da oposição israelita, Yair Lapid, afirmou no final de Outubro nos meios de comunicação israelitas (canal 12) que as baixas do exército ultrapassam as 12.000, incluindo cerca de 890 mortos. Isto condiciona uma estratégia que se torna cada vez mais errática, incapaz de mostrar conquistas concretas após meses de bombardeamentos e massacres. No dia 29 de Outubro, os meios de comunicação israelitas confirmaram que as tropas que invadiram o Líbano tinham recuado para as suas próprias fronteiras, fechando as passagens abertas nas linhas de contato através das quais tinham penetrado. Se confirmado, seria uma demonstração de um fracasso total, uma vez que até à data as FDI não conseguiram ocupar nenhuma das aldeias fronteiriças do Líbano.

Para medir estes supostos sucessos, vamos rever a lista de intenções iniciais: Netanyahu aspirava à destruição total do Hamas, à expulsão da população palestiniana das suas terras, à eliminação completa do Eixo da Resistência – em particular, do Hezbollah no norte – , o controle definitivo sobre o Irã, a expansão territorial às custas do Líbano, a desintegração daquele país em benefício de Israel, a submissão do Egito e da Jordânia e, por fim, a joia da coroa: um acordo histórico de normalização política com a Arábia Saudita . A condição sine qua non era obviamente a vitória militar. Com uma lista de objetivos tão ambiciosa, seria de esperar uma estratégia bem concebida, impecável e cuidadosamente calculada. Porém, a realidade insiste em nos mostrar outra coisa. Nenhum dos objetivos prometidos foi alcançado, e a única “conquista” tangível é a devastação de Gaza, um genocídio que despertou o repúdio da maior parte do mundo. Quanto ao apoio político, limita-se principalmente aos países "aliados" dos Estados Unidos, especialmente à União Europeia, onde a Alemanha apoiou, por exemplo, o recente ataque israelita ao Irão, tal como a França. No entanto, este apoio começa a enfraquecer à medida que a indignação social relativamente aos crimes israelitas cresce e se expande internacionalmente, mostrando que a vitimização sionista está a vender cada vez menos.

Apesar de ser um dos exércitos mais “modernos e avançados” do mundo, o IDF (o exército israelita) parece estar a passar por uma “faixa de azar”. Seus tanques mais sofisticados, aqueles que a publicidade apresenta como invencíveis em desfiles e exposições, caíram no campo de batalha. Parece que os mísseis de resistência não acreditam nas especificações técnicas nem prestam atenção à propaganda. Com quase metade destes veículos destruídos ou danificados, a indústria militar nacional – tão “eficiente” em tempos de paz – foi esmagada pela procura de reparações. Este revés não só expõe a magnitude das baixas sofridas pelas FDI (Forças de Defesa de Israel), mas também a incapacidade de Israel de satisfazer as suas próprias necessidades logísticas no meio do conflito. Neste contexto, Israel optou por uma “solução criativa”: subcontratar empresas privadas para restaurar as suas unidades blindadas. É claro que esta “abordagem inovadora” tem a pequena desvantagem de custos exorbitantes e de abrir a porta a um risco inesperado: a perda de informações confidenciais. Porque, como todos sabemos, nada protege melhor a confidencialidade de um exército do que delegar a reparação das suas unidades-chave a terceiros sobre os quais o controlo de segurança é, digamos, limitado. Confrontados com estes desafios, os militares parecem ter redirecionado os seus esforços tácticos para uma área em que têm, sem dúvida, uma vantagem: ataques a bairros civis em Gaza e no Líbano. Talvez os seus estrategas considerem que isto aumenta o “impacto visual” da ofensiva, embora na prática o efeito mais notável tenha sido um crescente descrédito internacional. Assim, a reputação das FDI é definida não tanto pela sua capacidade de combate, mas por uma capacidade incomum de gerar indignação global. O único aspecto em que Netanyahu pode declarar-se “vitorioso” até agora é no domínio dos ataques a civis.

Um dos objectivos mais ambiciosos e “nobres” de Netanyahu foi a expansão das colónias em Gaza. O plano parecia simples: primeiro, eliminar a resistência do Hamas e limpar a área da população palestiniana. No Norte, a estratégia foi semelhante: a expansão desejada exigia, claro, uma “pequena” reconfiguração da fronteira em detrimento do Líbano, criando espaço para novas colónias. Sem dúvida, uma visão ambiciosa; Tal como o próprio exército sionista descreveu, era um objetivo viável, pelo menos no papel. O que não estava no roteiro, porém, era a resistência persistente em ambas as frentes. Em vez de limpar Gaza e o sul do Líbano para as suas sonhadas expansões, Israel tem sido confrontado com ataques crescentes do Hezbollah no norte, onde bombardeamentos de foguetes forçaram os colonos israelitas a abandonar a área. Até a população ocupante em Gaza diminuiu após os ataques de 7 de Outubro. Em vez de expandir a sua presença, Israel enfrenta agora o despovoamento nos seus próprios colonatos. E, se isso não bastasse, esta alegada superioridade aérea enfrenta uma ameaça crescente de mísseis de longo alcance provenientes do Irão, do Iémen, do Iraque e do Líbano. Com cada ataque da resistência, os céus de Israel, outrora considerados invulneráveis, tornam-se uma zona de risco constante, e os projéteis que caem de múltiplas frentes continuam a despovoar e enfraquecer o território israelita. A “segurança aérea” deixou de ser uma certeza e passou a ser algo relativo. Assim, em vez de ganhar terras para as suas colónias, Netanyahu parece ter ganho território… mas sob a forma de escombros, despejos e de uma resistência que, de todos os ângulos, desafia as suas ambições expansionistas.

Uma conquista extra que Netanyahu conseguiu – embora possa não ter aparecido nos seus planos originais – foi despertar uma onda de solidariedade com Gaza e aumentar significativamente a lista de inimigos de Israel. Graças à sua política de ataques massivos e à sua campanha na região, conseguiu nada menos do que um aumento global da simpatia pela causa palestiniana e uma aliança sólida de novos atores no Médio Oriente. Um “sucesso” completo na diplomacia reversa. Entre os exemplos mais proeminentes desta expansão da resistência, temos os Houthis no Iémen, que agora dominam o Mar Vermelho com admirável firmeza. Durante quase um ano, nenhum navio ocidental conseguiu atravessar aquelas águas sem "submeter-se" às ​​suas restrições, um obstáculo que nem a Marinha dos Estados Unidos nem os seus aliados conseguiram superar, apesar dos seus persistentes esforços e ataques ao porto iemenita de Hodeida. Além disso, os Houthis atingiram um tal nível de controlo que já constituem uma ameaça directa aos grandes portos israelitas, conseguindo quase paralisá-los e sufocando a entrada de abastecimentos essenciais vindos do mar. Como se o bloqueio marítimo não bastasse, Netanyahu também pode receber o crédito por outro "feito" no ar: os mísseis do Hezbollah fizeram de Tel Aviv um destino pouco atraente para as companhias aéreas internacionais, com a consequência de que muito poucos se atrevem a enviar os seus aviões para lá. Este pequeno detalhe enfraqueceu gravemente a capacidade de Israel receber peças sobressalentes e matérias-primas. Os Estados Unidos, na sua ânsia de proteger a sua "posição" na Palestina ocupada, aceleraram o seu próprio isolamento económico no Médio Oriente. O bloqueio de rotas marítimas estratégicas no Mar Vermelho, juntamente com as apreensões de petroleiros no Golfo Pérsico, mostraram que as restrições “a pedido” funcionam nos dois sentidos. Os Houthis e os aliados da resistência, ao controlarem o acesso estratégico nestas rotas, confrontam o Ocidente com uma realidade dura e inesperada: já não podem movimentar o seu comércio através destas águas com a impunidade de antigamente. A integridade das cadeias de abastecimento ocidentais está agora em questão, a tecnologia “made in Israel”, devido aos intrincados conluios em Taiwan e Hong Kong e aos ataques móveis em Beirute, causaram uma perda de confiança nos equipamentos de telecomunicações ocidentais, especialmente em relação ao regime hebreu. . Somam-se a tudo isso as reclamações da China de que as CPUs da Intel (o cérebro do computador) têm enormes falhas de segurança. O Big Brother americano já ouve de tudo há muito tempo. Isto alertou tanto Pequim como Moscovo para a necessidade de rever as suas próprias cadeias de abastecimento para evitar um problema semelhante. Neste contexto, a China é a beneficiária, consolidando-se não só como “fornecedor de volume” do mercado global, mas como o “fornecedor de confiança” que cada vez mais países preferem face às flutuações nos fornecimentos ocidentais. Assim, entre sanções que acabam por ser um bumerangue, cadeias de abastecimento comprometidas e uma moralidade que é posta em causa, o Ocidente enfrenta um panorama onde as suas antigas ferramentas de pressão e a sua suposta superioridade ética já não conseguem impor respeito. A era em que dominava com uma narrativa moral unilateral parece estar esgotada, e o Sul Global, juntamente com novos aliados, surge como uma alternativa robusta a um Ocidente que, lenta mas seguramente, está a perder terreno na arena internacional. Além disso, os Estados Unidos foram expostos ao mundo... e não exatamente da melhor maneira. Graças às ações do seu fiel aliado Israel, a imagem dos EUA como um governo “farol de democracia” – se é que alguma vez o foi – desmoronou-se. Antes podia-se especular sobre a influência de Israel na política externa americana, mas agora não há mais espaço para dúvidas: a política externa de Washington está completamente alinhada com os interesses do lobby sionista. Tel Aviv não define a política norte-americana, é o contrário; Washington permite e melhora as ações de Israel de acordo com os seus interesses. Embora isto se torne cada vez mais claro, outros governos ocidentais, como a Alemanha, a França e o Reino Unido, aderiram à dinâmica de subordinação. E embora o calendário eleitoral dos EUA marque o dia 5 de Novembro como uma data possível para mudanças, quem quer que ganhe nas urnas, poucos de nós esperam uma diferença real. E embora o calendário eleitoral dos EUA marque o dia 5 de Novembro como uma data possível para mudanças, quem quer que ganhe nas urnas, poucos de nós esperam uma diferença real. E embora o calendário eleitoral dos EUA marque o dia 5 de Novembro como uma data possível para mudanças, quem quer que ganhe nas urnas, poucos de nós esperam uma diferença real.

Entretanto, a economia israelita, tantas vezes exaltada como um milagre no meio do deserto, enfrenta um futuro que parece estar mais cheio de buracos do que as suas defesas antiaéreas. A instabilidade na região atingiu duramente as multinacionais com escritórios em Israel. Desde pequenas empresas que tiveram que encerrar suas operações por falta de pessoal até grandes corporações que, por “políticas de compliance ético”, preferem se distanciar de um país com uma “agenda instável”, a lista de quem faz as malas e vai embora não para de crescer. O declínio demográfico e a fuga de técnicos qualificados (6% da população produz 50% das exportações de alta tecnologia) ameaçam a própria existência e a viabilidade futura do Estado.

A esta crise demográfica acrescenta-se a recente destruição de infra-estruturas essenciais, especialmente no sector da energia, onde os ataques atingiram plataformas de gás no Mediterrâneo. É um lembrete, se necessário, de que o Irão e os seus aliados não estão apenas presentes em terra, mas também no fundo do mar, prontos para transformar a “segurança energética” de Israel numa memória nostálgica. Agora, Israel terá de recalcular todas as equações de abastecimento, e o mesmo acontecerá com os seus clientes, que subitamente se perguntam se continuar a confiar neste “fornecimento estável” é realmente uma boa ideia. Aí vêm os Estados Unidos, o eterno salvador da economia israelita, cujo apoio permite a Tel Aviv manter este “partido” financeiro à tona à custa de um défice público norte-americano que já não é surpreendente. A ajuda de Washington tornou-se o pilar indispensável que apoia Israel, não importa quão instável esteja a economia. De acordo com o Instituto Watson da Universidade Brown, os EUA pagam 73% dos custos militares de Israel nesta campanha. O montante total desde o início da guerra ascenderia a cerca de 65 mil milhões de dólares. Numa cena digna de comédia, são os EUA que acabam por pagar a conta, injetando fundos que, em última análise, são a única coisa que impede Israel de afundar numa crise total.

Apesar das enormes somas investidas numa rede de defesa aérea supostamente “impenetrável”, os militares israelitas e o seu aliado americano estão a descobrir, para sua notável decepção, que a realidade normalmente não corresponde às suas expectativas. Os recentes ataques do IRGC (Corpo da Guarda Revolucionária Iraniana) em Tel Aviv expuseram as vulnerabilidades dos sistemas de defesa mais emblemáticos de Israel: a Cúpula de Ferro, a Funda de David, o sistema Arrow e até mesmo o venerável Patriota. Todos esses nomes pomposos soavam impressionantes… até que os mísseis começaram a fazer a sua entrada triunfante no espaço aéreo sionista, atingindo bases militares e centros de inteligência estratégica. Não só as FDI, mas também as defesas dos seus “sátrapas” na Jordânia e mesmo as da Marinha dos EUA mostraram uma incapacidade impressionante de conter estas ameaças.

Esta decisão retumbante tem sido um verdadeiro estímulo para os combatentes libaneses e palestinianos. O Hezbollah, em particular, tomou nota cuidadosa de cada erro, registando cada fraqueza para adaptar a sua estratégia. Longe de serem intimidadas, as fissuras nas defesas israelitas serviram para fortalecer a resistência no sul do Líbano, onde o Hezbollah, apesar dos espetaculares ataques israelitas a Beirute, não só se manteve firme como consolidou ainda mais a sua presença. As bombas israelitas reduziram bairros civis a escombros, mas o Hezbollah continua entrincheirado, usando a destruição como cobertura e refúgio para as suas operações futuras. Em vez de enfraquecer os seus adversários, Israel criou um cenário perfeito para recrutar e motivar novos combatentes. O problema que Hamas enfrenta, por exemplo, não é ter tropas motivadas, mas sim armas suficientes. O recrutamento na faixa (confirmado pelo próprio exército israelita) mais do que cobre as baixas sofridas neste ano de guerra. Este reforço da resistência estende-se também a Gaza, onde o Hamas continua a manter a ofensiva, destruindo equipamentos e unidades israelitas, ao mesmo tempo que mantém as suas bases de produção de foguetes, apesar dos constantes bombardeamentos. A resposta excessiva e mal calculada de Israel teve um efeito bastante claro: enquanto a resistência permanece em Gaza e o Hezbollah se fortalece no Líbano, a Fatah foi deixada à margem e a resistência palestiniana está cada vez mais unificada sob a liderança daqueles que confrontam diretamente Israel. Enquanto noutros cenários, como o da Síria, as coisas também não parecem melhores para os Estados Unidos. As bases dos EUA, sitiadas semana após semana, enfrentam uma pressão contínua que anuncia o fim do seu controlo confortável sobre os campos petrolíferos que ocupam ilegalmente, enquanto a Rússia e a Turquia, cada vez mais confiantes, bombardeiam o ISIS e as forças curdas aliadas dos EUA, minando a influência americana no país. a região.

Em suma, a “decisão estratégica” de Israel colocou em xeque a ocupação dos EUA no Médio Oriente, uma região onde a alegada hegemonia de Washington parece estar a cambalear sob o peso dos seus próprios erros. A instabilidade e a resistência também se espalharam pela Jordânia e pelo Egipto, especialmente no primeiro caso, onde o panorama escurece a cada dia que passa. A monarquia Hachemita, liderada pelo Rei Abdullah, está sob pressão pelo seu apoio incondicional a Israel e pela sua lealdade a Washington. O Irão, com a sua presença crescente na região, pressionou a Jordânia a tomar partido e a revelar as suas cartas, mostrando o governo jordano como um regime subordinado aos interesses de Israel e dos Estados Unidos, ignorando completamente os desejos do seu próprio povo. A cada movimento, a monarquia de Abdullah parece caminhar para um ponto sem retorno; A contagem regressiva para o regime parece ter começado. Entretanto, o Egipto vive uma instabilidade semelhante. A influência americana e israelita sobre o governo egípcio expôs o seu completo alinhamento com os interesses sionistas e americanos. Como compensação, o Cairo fortalece as suas relações com o grupo de países BRICS. O Egipto perceberá, mais cedo ou mais tarde, que não pode servir a dois senhores. A única coisa que mantém o “status quo” é a lealdade do exército ao actual governo. A crescente simpatia pelo povo palestiniano e a abertura de rotas de contrabando para Gaza sugerem que esta estabilidade poderá estar por um fio.

No cenário internacional, a tão alardeada superioridade “moral” do Ocidente foi destruída. O Sul Global trouxe à luz algo que para muitos era evidente: o colonialismo ocidental continua tão vivo e funcional como sempre, e a autoproclamada civilização dos “direitos humanos”, longe de exibir esta alegada excelência ética, mostra sinais cada vez mais claros de uma profunda crise moral. Esta crise é visível tanto nos governos que justificam e perpetuam políticas agressivas como nas populações que, com apatia ou cumplicidade, apoiam os seus líderes. A diplomacia já não é a ferramenta que costumava ser para o Ocidente. O Sul Global começou a usar o seu poder diplomático para questionar abertamente a moralidade ocidental em todos os fóruns, revertendo discursos que costumavam ser monopólio do Ocidente. Anteriormente, qualquer intercâmbio diplomático entre potências ocidentais e países não ocidentais começava com lembretes de “direitos humanos” e “valores civilizacionais”. Hoje, todas as conversações diplomáticas começam com uma resposta firme às reivindicações ocidentais de superioridade moral, como se viu na recente cimeira dos BRICS em Kazan. Agora é o Ocidente que enfrenta as questões, enquanto o Sul Global assume uma posição de dignidade face à sua história de colonização e manipulação. A erosão da influência ocidental não se limita à arena diplomática. As sanções impostas pelos Estados Unidos e pelos seus aliados, concebidas como ferramentas de pressão e controlo, revelaram-se surpreendentemente ineficazes no abrandamento do avanço tecnológico e militar dos países da resistência no Médio Oriente, do Irão ao Hezbollah e ao Iémen. Longe de impedir o desenvolvimento destas potências, as sanções empurraram a região para a órbita económica dos BRICS, afastando-a cada vez mais da influência do G7, num movimento que parece beirar a autodestruição. E, entretanto, a ONU é exposta como um órgão impotente e obsoleto. Israel, com a sua conduta descarada dentro da organização, deixou claro que toda a estrutura, desde o Tribunal Penal Internacional (TPI) e o Tribunal Internacional de Justiça (CIJ) até ao Conselho de Segurança e à Assembleia Geral, passando por Agências como a UNRWA são praticamente inúteis para qualquer tarefa que não esteja alinhada com os interesses das potências ocidentais. Esta irrelevância torna-se ainda mais evidente nos ataques de Israel às tropas de interposição da ONU na fronteira com o Líbano, evidenciando até que ponto a organização perdeu o controlo e a autoridade nas terras que, em teoria, deveria proteger e guardar.

Esta dura realidade, perceptível desde os primeiros dias do conflito, é agora exposta em toda a sua dureza, evidenciando o favoritismo e a corrupção em todos os cantos da ONU, algo que os representantes israelitas são responsáveis ​​por apontar com as suas ações, uma e outra vez. O colapso ético da ONU deixou de ser um boato incômodo para se tornar uma evidência impossível de ignorar... exceto, é claro, para aqueles que, de uma forma ou de outra, continuam a se beneficiar desta grande fraude diplomática. Até mesmo o Tribunal Internacional de Justiça (CIJ), num acontecimento sem precedentes, emitiu acusações de crimes de guerra contra indivíduos israelitas específicos. Embora a decisão tenha sido tomada com notável relutância, representa um sinal de que mesmo um Ocidente sob pressão está a começar a ruir sob o peso das suas próprias contradições. E essas contradições, longe de encontrarem solução, só vão crescer, acrescentando tensão a um equilíbrio que está por um fio.

Entretanto, o hesitante contra-ataque israelita contra o Irão tem sido um testemunho claro do medo e da confusão que se instalaram em Tel Aviv e Washington. A expressão poderia ser aplicada à bravata sobre o poder destrutivo israelense: “e as montanhas deram à luz um rato”. As ameaças de aniquilação foram diluídas em respostas tardias e escassas, enquanto o mundo observa como um país que se vangloriava da sua invulnerabilidade é subitamente praticamente paralisado pelo medo. A resposta recente e tardia de Israel ao último ataque hipersónico iraniano foi tão atípica quanto reveladora, sugerindo que o medo parece ter tomado as rédeas da estratégia. Este episódio mostra que a simples ameaça de violência – quando parte de uma potência como o Irão – é capaz de paralisar não só o aparelho de ocupação israelita, mas também a máquina anglo-americana, que agora parece hesitar perante a possibilidade de retaliação direta, contra Teerã.

Torna-se evidente, como dissemos, que o poder de Israel não é independente nem autónomo, mas absolutamente dependente da ajuda militar, económica e política dos Estados Unidos. A sobrevivência do Estado israelita e a sua capacidade de sustentar as suas campanhas depende de transportes aéreos massivos de armas americanas. Depois de um ano de guerra, as FDI têm uma escassez muito grave de mísseis interceptadores, que são caros e de produção lenta. Por isso solicitaram o sistema antiaéreo THAAD, não tanto pela sua eficácia, que ainda precisa ser demonstrada, mas pela falta de munição para os demais sistemas utilizados. A intervenção política de Washington na ONU e noutras esferas é o que permite a Netanyahu sonhar em alcançar os objetivos planeados. Esta dependência lança uma realidade desconfortável: Israel não pode sustentar-se, agora ou no futuro, sem o apoio do “Tio Sam”. Se o poder americano vacilar, Israel cairá inevitavelmente com ele, e esta vulnerabilidade não passa despercebida aos seus aliados e aos seus adversários, que observam e planeiam a sua estratégia em conformidade. Assim, embora estas “condições iniciais sensíveis” se entrelaçam e evoluam, o futuro dos próximos seis a doze meses parece incerto. O que parece claro é que as perspectivas não são nada encorajadoras para Israel e, talvez, ainda menos para aqueles no Ocidente que apostaram tudo na sua sobrevivência num Médio Oriente que está atualmente em ebulição.

Embora o futuro seja incerto por definição, o presente já oferece algumas pistas sobre a erosão de Israel e o panorama que enfrenta. A invasão terrestre do Líbano pelas FDI, longe de refletir uma demonstração de força, tem sido um lembrete claro das limitações dos militares israelitas. Ao contrário das invasões passadas, como aquela em que conseguiram ocupar Beirute, o desempenho atual das FDI tem sido apenas uma sombra do que era anteriormente. Mesmo que avançassem ainda mais, fá-lo-iam como uma força esgotada e desgastada, no que seria apenas o início de um conflito ainda mais longo.

AQUI TEM MAIS
***

domingo, 3 de novembro de 2024

AVANTE PALESTINA! * Partido Comunista dos Trabalhadores Brasileiros/PCTB

AVANTE PALESTINA!
"
Vitória da Ação Palestina: Barclays se desfaz da empresa israelense de armas Elbit Systems

Londres (Quds News Network) - O gigante bancário britânico Barclays vendeu todas as suas participações de investimento na Elbit Systems Ltd (ELST), a maior fabricante de armas de Israel, após uma campanha de um ano contra suas instalações por grupos de campanha pró-Palestina.

De acordo com a Palestine Action, um grupo ativista britânico que vem protestando contra os investimentos do banco em Israel, o Barclays possuía até recentemente mais de 16.000 ações da Elbit Systems.

O Barclays possuía zero ações da Elbit Systems, uma queda de 16.345 desde o registro anterior, datado de 15 de maio de 2024, no valor de mais de US$ 3,4 milhões, de acordo com os últimos registros da Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC).

“Os registros mais recentes da SEC e os dados da NASDAQ registram uma venda total imediata das ações ELST do Barclays, vendidas abruptamente quando a campanha da Palestine Action os atingiu com mais força”, disse a Palestine Action.

Um porta-voz do Barclays negou que a empresa seja acionista da Elbit Systems.

“O Barclays negocia ações de empresas listadas em resposta a instruções ou demandas de clientes e isso pode resultar em nós detendo ações”, disse o porta-voz.

“Não estamos fazendo investimentos para o Barclays e o Barclays não é um 'acionista' ou 'investidor' da Elbit Systems nesse sentido e, portanto, não pode alienar; seria enganoso sugerir o contrário.

“Continuamos a fornecer uma gama de serviços financeiros ao setor de defesa, incluindo empresas de defesa dos EUA, Reino Unido e Europa.”

A Palestine Action realizou 54 ações de protesto no Reino Unido contra o Barclays nos últimos 12 meses, incluindo quebrar janelas das agências do banco e pintá-las com tinta vermelho-sangue. Muitas dessas ações deixaram as agências do Barclays fora de operação por semanas.

O grupo disse que suas ações buscavam aumentar os custos associados ao relacionamento com a Elbit, que, segundo ele, foi uma das principais responsáveis ​​pelos atos genocidas contra os palestinos em Gaza desde que a guerra de Israel no enclave começou em outubro de 2023.

A Palestine Action já atacou a Elbit Systems em protestos que ocasionalmente envolvem danos físicos e ocupação de propriedades britânicas associadas à empresa.

O grupo diz que “adotou táticas radicais de ação direta que incluem sabotagem de infraestrutura essencial para impedir fisicamente o suporte contínuo a operações comerciais destrutivas e letais”.

Vários ativistas que atacaram o Barclays foram presos no ano passado, acusados ​​de causar danos cujo valor varia entre £ 250.000 e £ 500.000.

“Por meio de uma estratégia focada, a ação direta alcançou vários sucessos e forçou as mãos de muitas instituições cúmplices”, disse um porta-voz da Palestine Action.

“Continuaremos comprometidos e focados na tarefa em questão e miraremos em todas e quaisquer instituições e empresas que permitam que a maior empresa de armas de Israel mantenha suas operações genocidas. Isso significa que, se o Barclays reinvestir na Elbit Systems no futuro, a Palestine Action baterá à porta novamente.”

Uma pesquisa inicial publicada em julho de 2022 pela Campanha Contra o Comércio de Armas, Guerra à Carência e Campanha de Solidariedade à Palestina mostrou que o banco detinha participações acionárias no valor de mais de £ 1,5 bilhão em empresas cúmplices do apartheid israelense.

A lista de empresas nas quais o gigante financeiro supostamente tem interesses inclui a General Dynamics, uma empresa de armas dos EUA que produz componentes para aviões de guerra. Outras empresas incluem a BAE Systems e a Raytheon.

Em resposta ao relatório, o Barclays disse que fornece serviços para empresas americanas, britânicas e europeias “que fornecem produtos de defesa para a OTAN e seus aliados”.

Em agosto, o Financial Times informou que o Barclays estava planejando se retirar dos novos leilões de títulos do governo de Israel em meio à pressão de ativistas pró-Palestina.

O relatório disse que o banco estava tentando responder às críticas aos seus investimentos em Israel.
"
*
ANEXO
ISMAEL JALIL
"
*NÃO É UMA GUERRA*

Não é uma guerra, quero esclarecer isso, certo? Não existem dois exércitos. Há um ocupante ilegal e há pessoas oprimidas que resistem a essa ocupação. Em qualquer caso, o que o povo palestiniano está a fazer da forma que melhor compreende através das suas próprias organizações é uma autêntica guerra de libertação nacional. Uma das coisas que deve ser constantemente enfatizada é que não nos deixamos enganar, porque um dos recursos que o sionismo quer e implementa é a mudança de papéis. Aqui há apenas um perpetrador e está do lado do chamado Estado de Israel ou da Palestina ocupada. Eles são os perpetradores e as vítimas são o povo palestiniano que resiste heroicamente com uma resistência extraordinária, mas que também possui uma informação que. para mim é fundamental em tudo. É por isso que sentimos que não temos mortos, temos mártires, e isso não é pouca coisa. Mas sonho com a realização de algo que está a acontecer e que é a derrota estratégica do sionismo. Isso está aparecendo."
*